domingo, 10 de agosto de 2008

Canção Vespertina

A tarde que respira cisnes brancos
No mar incandescente de suas nuvens
Exala a tenra essência que me envolve
Na pétala arquejante de seus braços.

A viga que estrutura o coração
Na pele iridescente dos seus beijos
É o ventre que floresce os sentimentos
Que embalam as cantigas da minha alma.

Nas linhas do crepúsculo que me embraçam
Em réquiens de harmonias esteleares
Desenho o tom sereno das paisagens
Que hão de resguardar o amor nascente.

Por córregos fluentes do meu ser
Que pulsam a água ardente dos desejos
Ressoa a chama doce das carícias
Atando o nosso ser em véus de sonho.

quarta-feira, 6 de agosto de 2008

Curvas

Além da sorumbática essência
Dos planos siderais em que eu existo,
Fulgura pelo céu um astro misto
De carnes, já sem alma, em transcendência;

A chuva que já cai em linhas ristes
Compõe a sinfonia decadente
Do corpo tão exausto que nem sente
O mundo que lhe habita em pólos tristes.

A noite que me envolve em mantas velhas
Transforma os olhos frágeis em centelhas
Ardendo sob o espectro da agonia;

Nas curvas descontínuas do infinito
Converjo as minhas dores neste grito
Que a morte em seu vigor já silencia.



14/6/08

Nirvana

Por olhos que percebem já não mais
A triste ressemblância da matéria
Ressoa a minha calma mais sidérea
Ao longo dos anseios viscerais;

No braço dessas flamas eternais
Transluz a minha essência mais etérea
Fluindo em ressonância com a artéria
O pulso dos meus mundos tão astrais;

Além dum turbilhão de caos disperso
Girando sob as rodas do universo
Que traz pra cada ser a dor insana,

Liberto este meu ser da consciência
Em busca da sublime transcendência
Pro mar celestial do meu Nirvana.



17/4/08

quarta-feira, 23 de julho de 2008

Não-Vivido

Nas rochas que habitam o meu peito
Só restam meu espelhos divergentes
Mostrando as mil imagens do meu leito
Vestindo a minha carne em negros dentes;

Meus braços que carregam esperança
Afundam em profundos lamaçais
Nascidos duma sombra que me avança
Em forma das tristezas eternais.

Voando com as asas amputadas
Acima dum abismo que me atenta,
Me perco nas mais gélidas moradas
Que fazem destes céus uma placenta;

Em tardes de agonia carmesim
Me perco nas silentes latitudes
Dum mundo que não vive mais em mim...

Contemplação

Em formas nebulosas de existência
Se tevem nuvens alvas e tão finas
Tocando suas canções de paciência
Em valsas de texturas cristalinas;

Gravando seus pincéis em minha mente
Projeto em inextensível longitude
O lento descompasso do afluente
De mundos verticais em solitude;

De mundos verticais em solitude
Que o plano do universo reverbera,
Transcorre uma contínua infinitude
Além da imensidão da atmosfera;

Além da imensidão da atmosfera
O sol já desintegra a sua flama
Que tinge em rubras linhas a quimera
Do mundo sideral que já me chama;

Do mundo sideral que já me chama
Pro cosmo inercial da consciência,
Contemplo a criação das mãos de Brahma
Em formas nebulosas de existência.



20/4/08

segunda-feira, 2 de junho de 2008

Perfume das neves

Na pele macia que envolve seu corpo
Transpiram seus traços serenos de lírio
Tingindo meu sonho no rubro delírio
Da carne e quimera num mundo absorto;

Ao longo da noite tão bela e tranquila
Transposta no lago sem fim dos olhares,
A chama pulsante do amor já rutila
Aos arcos mais plenos dos ciclos lunares;

Ao mar que já dança em vibrantes arpejos
Escrevo uma imagem nos bancos de areia
Que mostra nas praias de infindos desejos
Os níveos ardores que correm nas veias;

No vôo mais pleno 'té o fim do horizonte
Levado na brisa da tarde tão leve,
Mergulho nas nuvens que têm como fonte
Seu doce perfume em texturas de neve.

sexta-feira, 30 de maio de 2008

Disfonias

Tangendo a metafísica do ser,
Amorfas disfonias de nevroses
Já cantam seu coral de tortas vozes
Na longa histrionia do viver;

O lago desolado dos olhares
Coberto pelo véu da inconsciência
Já forma em sua dolosa evanescência
A bruma dos anseios bipolares.

Jazido entre universos de clausura
O mantra duma origem obscura
Reúne a minha mente coas estrelas;

Na veia da existência tão partida
Trascendo as dimensões da minha vida
Aos planos que as distorcem 'té rompê-las.


sexta-feira, 23 de maio de 2008

Pele

Desejos sem perfume e sem esperança
Já dançam no colar da minha espinha
Trazendo em suas bocas desmembradas
A gota efervescente da histrionia;

Chorando tintas mortas de esqueletos
A mente recheada de neuroses
Figura os rostos frágeis das memórias
Quebrando-se em vidraças catalépticas.

Passando o carvão cinza dos meu sonhos
No anel das luas rasas em conflito
Escorrem no meu crânio os infinitos
Segundos de lembranças em tela errante;

Vibrando as dez mil vozes dissonantes
Que sangram fragmentos de apatia
O pulso convalesce em seus arpejos
A pele distorcida da existência.

Tangente

No ventre manchado de orvalho
Que gera um celeste painel
Encurva-se o níveo agasalho
De estrelas tecidas no céu;

São quartzos que entoam cantigas
De luz, insônia e cansaço
Ao longo de estradas antigas
Que asfaltam o lânguido espaço;

Colorem as folhas de outono
Co'os raios mais doces e frágeis
Que entoam violas de sono
Ao longo de etéreas miragens;

Seus corpos inertes e quentes
Descansam em nuvens macias
Os olhos tão densos, silentes
Soprando as astrais melodias;

E além das paisagens tão lisas
Pintadas nas águas mais puras,
Eu traço um vetor de mil brisas
Tangente à estelares texturas.

quarta-feira, 14 de maio de 2008

Cicatrizes

Além do corredor de negros ventos
Propaga a minha essência em chama fria
Ardendo em sua atroz desarmonia
O vago enlanguescer dos meus alentos;

Envolto nestas asas perecidas
Imerjo no horizonte mais extenso
Das dores que refletem o que penso
Fulgidas por um sol de mil feridas;

Traçando meu desenho nestas telas
A face de textura tão marmórea
Demonstra a palidez dos meus vernizes;

Num lânguido universo sem janelas
A frágil dissonância das memórias
Se perde no meu mar de cicatrizes.

domingo, 4 de maio de 2008

Ataraxia

No ardor espectral que me permeia
E abrange a infinitude da existência,
Eu busco a mais sublime transcendência
Da paz a desfolhar-se em minha veia;

P'la estrela solitária que passeia
No plano sideral da inconsciência,
Fulgura a dimensão da minha essência
Em meio a noite azul que se incendeia;

Tangendo o cosmo eterno da minh'alma
Mergulho num oceano que me acalma
E toda inerte dor já silencia,

Nas águas que se escorrem do seu flux
Elevo a branca chama que transluz
As vestes do meu ser na ataraxia*.


*Ataraxia: serenidade de alma; calma de espírito.

quinta-feira, 24 de abril de 2008

Transmutação

Ouvindo as melodias dum solfejo
Que os ventos já tremulam como sinos,
Já brilham tais poentes cristalinos
As notas da existência que eu arpejo;

Sonhando com a origem do lampejo
Formado pela brasa dos destinos,
Mergulho em direção aos feixes finos
Tecendo o véu de estrelas que eu desejo...

Nos átomos que vibram neste instante
A astral disritmia ressonante,
Ascendo a minha essência ao céu disperso;

Despido da matéria tão vazia
Transmuto a minha cósmica energia
Além da massa exangue do universo.


21/4/08


segunda-feira, 21 de abril de 2008

Siamesas

Jazido sob um céu de dor profunda
E mares duma flor que não mais cresce,
A luz do seu alento me incandesce
Trazendo este meu ser da cinza imunda;

Sonhando co'esta lua que me inunda
Em raios perfumados tão celestes
As asas deste amor já me revestem
Nas cores da esperança mais fecunda;

Num torpe sentimento sem renome
O véu do seu olhar já me consome
A fonte interminável de tristezas;

Unindo o meu delírio à esta quimera
O tom das suas chamas reverbera
O ardor de nossas almas siamesas.




15/3/08

sexta-feira, 18 de abril de 2008

Miasma

Noturnas ressemblâncias de delírio
Já dançam sob o mar do negro céu
Formando um tão disforme carrossel
Que gira sobre os eixos do martírio;

No ventre que germina este meu fel
Floresce em todo canto um magro lírio
Tingindo o meu olhar num tom porfírio
Que cobre minh'alma como um véu;

Ao longo do jardim da minha mágoa
Floresce por lembranças tão escuras
O errante andarilhar do meu fantasma;

E assim pelo langor que se deságua
Meu corpo se transforma na figura
Envolta sob um manto de miasma.


8/3/08

quinta-feira, 17 de abril de 2008

Escreva nos céus

Escreva nos céus minha eterna elegia
Na tinta formada de nuvens mais puras
Que vertem no chão as suaves texturas
Das sombras dançando em etérea harmonia;

Escreva na aurora estes sonhos errantes
Corridos no vaso mais longo e contínuo
Dum ser que reflete o seu terno fascínio
Aos astros que brilham olhares pulsantes;

Na lua que emite um frágil sorriso
Pra Terra banhada no doce granizo
Das noites qu'explanam seus gris minerais,

Desenho estas letras no fim do horizonte
Trazendo as estrelas na intrépida fonte
De caos e quimera p'los céus eternais.


10/4/08

quarta-feira, 9 de abril de 2008

Oniria

No sonho que figura as suas cores
Formadas pelos traços estelares,
Eu encho a minha fonte dos olhares
Com o éter mais brilhante dos amores;

Ao vago esvairecer dessa quimera
Escuto o seu perfume a toda hora
Nutrindo esta saudade que desflora
Na mente que o delírio reverbera;

Ao longo deste mar que não mais dança
Eu vejo a ressemblância dos seus braços
Chamando-me prum mundo sem janelas;

No vale mais distante da lembrança
Me perco nos desenhos dos seus traços
Pintados numa onírica aquarela.

Pincéis De Outono

Nas cordas mais vibrantes da minh'alma
Transcendo até as miragens mais serenas
Da langue solitude que me acalma
Em meio a estas dores tão terrenas;

Andando pelos mares das lembranças
Me adentro neste transe das nervuras
Que dopam minha mente com as tranças
Da paz que já me aflui nas estruturas;

Em meio aos esqueletos deste açoite
Perdidos na corrente do meu sono,
Eu sonho com pincéis da meia-noite
Traçando os brancos lírios de outono.

terça-feira, 1 de abril de 2008

Tesouro

Underside, underwater miles
There's a treasure for you just to find
Light sand stars, precious minerals

A treasure to find
You are my treasure to find
A caress of water, caress of life,
A caress of aquamarine water


Novembre - Aquamarine



Além das mais cinzentas estruturas
Estrelas já despontam no horizonte
Luzindo as suas plácidas figuras
Ao longo deste céu da sua fronte;

Envolto nos tentáculos da noite
E o brilho destes mares de cristal,
Me embebo nos licores deste açoite
Que vem do seu feitiço magistral;

Nas ondas deste azul aquamarinho
Banhando a madrugada em harmonia,
Contemplo o transcender do seu carinho
Nos beijos que o luar acaricia;

Adentro um coração já tão aflito
Carrego o sentimento que me acalma,
Levando este meu ser até o infinito
Em busca do tesouro da su'alma.

quarta-feira, 26 de março de 2008

Esquecimento

No caos desfigurante do meu ser,
Mergulho nesse mar de inexistência
Que leva este meu corpo a perecer
Pros planos abissais da sonolência;

Na dor dilacerante da minh'alma,
Me perco nos jardins da letargia
Que vêem este tormento que desalma
Tornar-se minha eterna companhia;

Na face já vazia do meu peito
Transpulsa a solitude que reveste
As terras tão silentes do meu leito
Molhadas pelo pranto mais celeste;

E assim sob a fraqueza dos sentidos
Dopados pelo ardor do desalento,
Explanam os meus sonhos tão queridos
Na langue dimensão do esquecimento.

Lágrimas Noturnas

Imerso pelos mares do meu sono
Me perco nas paredes da tristeza
Que sopram suas brisas de abandono
Na mente entorpecida em incerteza;

Andando pelas águas tão inertes
Do campo colorido pela aurora,
Me vejo enegrecido sob as vestes
Das chamas que se apagam a cada hora;

É triste a sinfonia que já ouço
Provinda destes céus crepusculares,
Prendendo este meu ser no calabouço
Da noite que reside em meus olhares;

E assim sob essa manta perecida
Do inverno que me envolve e me permeia,
Transcorre o dissabor da minha vida
Na forma dessas lágrimas de areia.

sábado, 15 de março de 2008

Núcleo

Ao longo d'um penhasco tão profundo
O som dos pensamentos me angustia
Fazendo do meu corpo a moradia
Das ânsias que assolam todo o mundo;

Ao fundo deste mar que não termina
Contemplo a deslembrança do meu fado
Levando os mil caixões do meu passado
Pro leito mais escuro desta sina;

Perdido sobre os planos da existência
Eu vejo o coração abrindo as portas
Da noite que me banha em febre aflita;

Tragado pelas sombras da demência
Só resta ao meu olhar as cores mortas
Do núcleo da tristeza que me habita.

Aura

Na essência dos perfumes mais etéreos
Que vêm das profundezas do meu ser,
Habita o mais silente dos mistérios
Em formas que não tem como se ver;

Provinda dos portões da eternidade
E vagos lugarejos do infinito
Percebo a sua plena sanidade
Fulgindo o seu desenho mais aflito.

Escorre sentimentos em torrentes
E tece os pensamentos por paisagens
Que tingem a existência em cores quentes
E faz dos meus desejos mil imagens;

Assim tal madrugada em cor tão pura
Andando pela estrada do horizonte,
Transmito este vigor que se perdura
Nos olhos da minh'aura como fonte.

quinta-feira, 13 de março de 2008

Pesadelo

Pedaços de luares já se escondem
No céu que resplandece cores frias
Tingindo as suas plenas harmonias
Por olhos que se perdem n'orizonte;

Andando pelas águas da agonia
Vertida das artérias como fonte,
Me vejo sob as ondas desse afronte
Que banha esse meu ser em letargia;

Nas telas que refletem o meu nada
Eu vejo em minha face deformada
Os sonhos que se abraçam num conflito;

À luz ocidental do sol de gelo
Imerjo minha mente ao pesadelo
Vivido nos escombros do infinito.

sexta-feira, 7 de março de 2008

Frieza

Na frágil palidez do céu cinzento
Tingido pelas cinzas da beleza,
Respira no silêncio da tristeza
O peito que se afoga em desalento;

Habita a mais espessa profundeza
Do abismo em que repousa meu tormento
O ventre que germina o filamento
Dos sonhos que congelam na frieza;

Nas dores em que sangram meus sentidos
Os olhos transfiguram mil gemidos
Que correm pelas veias tão vazias;

No solo que permeia essa morada
Espalho a minha essência congelada
À lua que perfuma as noites frias.

terça-feira, 4 de março de 2008

Paredes do Sono

À minha insônia...

Deitado sob um céu de negras cores
Que cobre este meu ser com sonolência,
Mergulho na sublime transcendência
Do sonho pincelado em mil sabores;

À lua já transposta em evidência
Mostrando seus monótonos langores,
Sentidos reverberam seus torpores
Envoltos sob o véu da inconsciência;

Por olhos que não podem mais contê-las
Descanso no silêncio das estrelas
Prendido pelas teias do abandono;

Guiado pela noite tão oblíqua
Me perco nessa terra mais longínqua
Jazida entre as paredes do meu sono.

quarta-feira, 27 de fevereiro de 2008

Tempo

Ah, templo da sublime liturgia
Que traça dedos longos pela história,
E emite este sabor de nostalgia
Provido pelos flancos da memória;

É casa dos momentos que se escorrem
Ao longo das estradas do universo,
Tais águas do infinito que percorrem
Os rios em destino tão disperso;

O livro dos mistérios mais ocultos
Que guarda seus escritos no passado,
E leva para os corpos já sepultos
A paz do seu descanso mais sagrado;

Semente que germina em todo canto
Nas danças do inverno ou primavera
Trazendo na ilusão do seu encanto
Os sonhos que florescem a toda era.

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2008

Versos

Sob lua que brilha seu rosto de prata
Componho o verniz dos poemas cinzentos,
Traçando na folha a mais triste sonata
Do cosmo da mente em infindos tormentos;

Tristeza que aflora das minhas artérias
E nutre estas letras impressas em dores
Retrata o pulsar das enfermas matérias
Que imergem meus traços num mar de langores;

No vento que dança ao compasso da noite
Espalham-se os versos de eternos pesares
E junto com ele o mais cálido açoite
Dos sonhos perdidos nas mantas dos ares;

Por dedos que escorrem palavras tão frias
Eu abro em meu verso as mais lúgubres portas,
Que escrevem nos céus as finais elegias
Dos olhos que brotam lembranças já mortas.


25/1/08

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2008

Desfolhar-se

Imerso no silêncio destas rosas
Da triste placidez que me permeia,
Os sonhos se reduzem à poeira
Que forma as minhas cinzas lutuosas;

Rasgando as minhas fontes lacrimosas
Com dores que circulam minha veia,
Me entrego a senetude que passeia
No campo florescido em mil neuroses;

Em vez da liberdade que me acalma
Só vejo a eternidade da minh'alma
Fundir-se num terreno de miséria,

E assim eu me aprofundo no tormento
Que imerge esse meu ser no sentimento
Do ardor que se desfolha em minha matéria.

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2008

Comatose

Caminho no deserto sigiloso
Dos astros que colorem céus noturnos,
Fulgindo num rubor pernicioso
A dor dos pensamentos mais soturnos;

Visões que se convertem nas quimeras
Da tarde construída em cores frias,
Revela o aproximar das novas eras
No canto das eternas liturgias;

Eterna, tal miséria descendente
Que brilha ao estupor do sol opaco
E vento que desmancha a cor morrente
Da chama que lampeja um corpo fraco;

Num mar que perpetua as vis esfinges
Da mente revestida em psicoses,
Explana em cadavéricas vertigens
Os sonhos das profundas comatoses.

Sonolência

Em tardes de sardônica beleza
Luzindo as fragrâncias do Deus Sol,
Flutua como um frágil rouxinol
As asas que me envolvem na tristeza;

Em meio a essas cores tão vazias
Que banham e preenchem céus devassos,
Eu danço nos funéreos descompassos
Da valsa que anuncia o fim dos dias;

Mergulho nessa nuvem de vertigem
Que eleva este meu ser à torpe altura
E inunda o coração coa ânsia impura
Das cinzas que provem de sua origem;

Nos olhos em que fecham suas portas
Pro mundo interior em decadência,
A mente já se entrega à sonolência
Das veias pronde escorrem flores mortas...


8/2/07

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2008

Nervos

No baile destas ondas luminosas
Banhando a alvorada em cor vermelha,
Apaga-se o fulgor desta centelha
Que nutre as ilusões mais dolorosas;

Nos traços das paisagens nebulosas
Da vime solidão que me permeia,
Percorre este langor na minha veia
Levando as minhas ânsias cigilosas;

Em dia que fulgura um céu dorido
Encubro-me co'o lúgubre tecido
Que veste o meu destino em negras cores;

Na mente pincelada em vãos matizes
Os nervos se transformam em raízes
Que aterram o meu ser num mar de dores.



18/1/08

sexta-feira, 8 de fevereiro de 2008

Flor de Carne

É ser das mais profundas agonias
Tingida por um mar de cores nuas
Cantando seus delírios para as luas
Que brilha como estrelas já tão frias;

Transpira e desabrocha sob as portas
Do sol que descolore folhas virgens,
Flertando pelos campos das vertigens
O céu que bruxeleia nuvens mortas;

Exala pelos ares sua essência
Na cor de seus feitiços mais devassos,
Que pintam as montanhas nos tons lassos
Das flautas em orquestras de clemência;

Abrindo as suas pétalas serenas
Pr'a brisa que perfuma jardins ralos,
Revela o desalento destes halos
Que explanam suas dores mais terrenas;

Em vez de sua face tão vistosa
Luzir em seu rubor iridescente,
Espalha num langor convalescente
As carnes que florescem desta rosa.

terça-feira, 5 de fevereiro de 2008

Anjo

Além dos horizontes mais dispersos
Deitados sob as nuvens de veludo,
Um anjo fulgurou seu canto mudo
Subindo pelos braços do universo;

Espalha negras chamas pelo vento
No ardor de sua angélica tristeza,
E chora a sua mágoa à lua acesa
Que banha a superfície em tom cinzento;

Vertigens que colorem seus olhares
No tom mais azulado da agonia
Usando o cobertor da noite fria
Pr'o alento de seus medos e pesares;

Pedindo para estrelas do oriente
Um fim pr'a sua febre dolorosa,
Que dança nessa valsa lacrimosa
Co'os sonhos que se esvaem pelo poente;

Em dores dessa aflita criatura
Prostrada no seu mar de desencanto,
Mergulha as suas asas de amianto
Num céu que se transforma em sepultura.

quarta-feira, 30 de janeiro de 2008

Despedida

Escrevo este poema em desalento
Atado no vigor dos seus enlaços,
Velando pela noite os mil pedaços
Dos sonhos espalhados pelo vento;

Tristeza que me envolve em negros braços
E afaga minha angústia em vil tormento
Tingindo o coração no tom cinzento
Do céu que perpetua enfermos traços;

Por chagas abismais que não mais curam
Os astros mais vetustos transfiguram
O fusco lamentar da mi partida;

No frio mausoléu da cor dos mangues
Apenas o esplendor das flores langues
Colorem o estupor da minha vida.

sábado, 26 de janeiro de 2008

Chamas

Perfume das planícies encantadas
Ou âmbar dos recintos mais distantes,
É musa de contornos radiantes
Que alenta mi'as quimeras laceradas;

É estrela que ilumina a madrugada
Com raios de fulgor purificante,
Trazendo em seu olhar inebriante
As flores que colorem mi'a morada

Serenos são os mares de s'a fronte
Formando no meu peito um horizonte
Que vem da eternidade dos seus traços;

Em céus que resplandecem doces luas
Mergulho no fulgor das chamas suas
Ardendo no infinito dos seus braços.

terça-feira, 22 de janeiro de 2008

Sonhos

Aos olhos d'uma estrela tão brilhante
Tingindo e salpicando o céu noturno,
Aflora o sentimento mais soturno
Dos sonhos que perecem nesse instante;

Envoltos sob o velcro taciturno
Dos olhos de tristeza inebriante,
Almejam num refúgio tão distante
A paz de seu lamento em tom saturno;

Paisagens que florescem no horizonte
Refletem o cingir do meu afronte
Por telas de morrente palidez;

Nos tons de sua mais doce melodia
O vento desfigura a chama fria
Dos sonhos que se esvaem outra vez.



27/12/07

domingo, 20 de janeiro de 2008

Asas

Nas asas que abraçam a luz do sol
Voando por recantos esquecidos,
Adentro nos encantos tão doridos
Do céu que se transforma em arrebol;

Aspiro a natureza que se aflora
Em dedos de colórea transluzência,
Ouvindo as serenatas em dormência
Dos campos pincelados pela aurora;

Por mares siderais a cintilar
Repouso os meus desejos cigilosos,
Nutrido pelos halos perfumosos
Das rosas que se banham ao luar;

Por ventos que sibila um verde laço
Na cálida e mais errática harmonia,
Contemplo a mais sublime poesia
Das terras que se estendem até o espaço.

terça-feira, 1 de janeiro de 2008

Segredos

Nas águas qu'escorrem seus prantos eternos
Em leitos que formam essências tão puras,
Ressoa a clemência dos rubros infernos
Num céu que reflete as paisagens escuras;

Luzindo e queimando estas cores aflitas
Na fúria longíqua do ardor cintilante,
Jardins em que brotam as flores malditas
Dos frios recantos do espaço distante;

Florestas sem fim de lampejos sidéreos
Ofusca o negrume da noite tranquila,
Fulgindo estes ecos de antigos mistérios
Por mares que ondulam e céu que rutila;

Na lua qu'encobre sua face dormente
Em nuvens que alongam seus braços mortais,
Se velam nos olhos da Terra silente
Os langues segredos das terras astrais.