terça-feira, 25 de setembro de 2007

Inertes

Num corpo que imerge no mar infinito
Vestido nos trajes da vime loucura,
A negra mortalha estéril e impura
Recobre seu tronco tal pêndulo aflito;

Imagens que correm num prisma finito
Mostrando na terra sua insana gravura,
Tais sonhos que nascem d'uma aura obscura
E assim pesteneja teus sórdidos ritos;

Nos vales sombrios dos riachos sem vida
Lampeja o fulgor da quimera perdida
Sob débil franzir destes olhos celestes;

No frio abissal das montanhas veladas
Ascende o delírio das luzes aladas
Pr'a sempre jazidos nos flancos inertes.


sábado, 22 de setembro de 2007

Pálpebras Negras

Nos tristes sepulcros que dormem sem vida
Os corpos descansam seus débeis alentos,
Prostados ao véu da lembrança perdida
Do sol que reflete espirais filamentos;

Na dança alvoral de seus rotos semblantes
As sombras transluzem a chaga quiméria,
Tal manto que escorre em langor flamejante
No vil balouçar da sublime matéria;

Por águas que vertem numa ocre dormência
As almas fibrilam suas ébrias retinas,
Cinéreo lampejo de uma áurea indolência
Que jaz ao relento das plúmbeas cortinas;

Por céu que escurece nas tardes purpúreas
Exalam perfumes de flores veladas,
Levando pr'a noite as memórias azúleas
Das pálpebras negras pr'a sempre cerradas.


terça-feira, 18 de setembro de 2007

Serenata

Na pálida essência brilhante
Das luas em faces de prata,
Ressoa este arpejo vibrante
Da triste e mordaz serenata;

Ardendo suas cordas funéreas
Em densos lençóis de saturno,
Levando as augustas misérias
Aos prados de orvalho noturno;

Por astros que clamam veemência
No débil luzir d'alvorada,
A música em vime insolência
Transmuta sua voz azulada;

E assim num afronte anestésico
As sombras recaem sobre o vento,
Jazidas no ardor sinestésico
D'um torpe valsado ao relento.


segunda-feira, 17 de setembro de 2007

Solitude

Sob fraco luzir do poente
E um ébrio torpor funerário,
Bruxela um escuro cenário
Por calma neblina dormente;

Sob fusco luar tenebrário
Brilha uma faísca ascendente,
Levando pr'um mundo insolente
O triste esplendor planetário;

Por langues paisagens sem vida
Exala esta essência perdida
De terna e mordaz quietude;

Por negra matiz ao relento
Espalham as cinzas ao vento,
Na paz d'abismal solitude.