quarta-feira, 23 de julho de 2008

Não-Vivido

Nas rochas que habitam o meu peito
Só restam meu espelhos divergentes
Mostrando as mil imagens do meu leito
Vestindo a minha carne em negros dentes;

Meus braços que carregam esperança
Afundam em profundos lamaçais
Nascidos duma sombra que me avança
Em forma das tristezas eternais.

Voando com as asas amputadas
Acima dum abismo que me atenta,
Me perco nas mais gélidas moradas
Que fazem destes céus uma placenta;

Em tardes de agonia carmesim
Me perco nas silentes latitudes
Dum mundo que não vive mais em mim...

Contemplação

Em formas nebulosas de existência
Se tevem nuvens alvas e tão finas
Tocando suas canções de paciência
Em valsas de texturas cristalinas;

Gravando seus pincéis em minha mente
Projeto em inextensível longitude
O lento descompasso do afluente
De mundos verticais em solitude;

De mundos verticais em solitude
Que o plano do universo reverbera,
Transcorre uma contínua infinitude
Além da imensidão da atmosfera;

Além da imensidão da atmosfera
O sol já desintegra a sua flama
Que tinge em rubras linhas a quimera
Do mundo sideral que já me chama;

Do mundo sideral que já me chama
Pro cosmo inercial da consciência,
Contemplo a criação das mãos de Brahma
Em formas nebulosas de existência.



20/4/08