sexta-feira, 30 de maio de 2008

Disfonias

Tangendo a metafísica do ser,
Amorfas disfonias de nevroses
Já cantam seu coral de tortas vozes
Na longa histrionia do viver;

O lago desolado dos olhares
Coberto pelo véu da inconsciência
Já forma em sua dolosa evanescência
A bruma dos anseios bipolares.

Jazido entre universos de clausura
O mantra duma origem obscura
Reúne a minha mente coas estrelas;

Na veia da existência tão partida
Trascendo as dimensões da minha vida
Aos planos que as distorcem 'té rompê-las.


sexta-feira, 23 de maio de 2008

Pele

Desejos sem perfume e sem esperança
Já dançam no colar da minha espinha
Trazendo em suas bocas desmembradas
A gota efervescente da histrionia;

Chorando tintas mortas de esqueletos
A mente recheada de neuroses
Figura os rostos frágeis das memórias
Quebrando-se em vidraças catalépticas.

Passando o carvão cinza dos meu sonhos
No anel das luas rasas em conflito
Escorrem no meu crânio os infinitos
Segundos de lembranças em tela errante;

Vibrando as dez mil vozes dissonantes
Que sangram fragmentos de apatia
O pulso convalesce em seus arpejos
A pele distorcida da existência.

Tangente

No ventre manchado de orvalho
Que gera um celeste painel
Encurva-se o níveo agasalho
De estrelas tecidas no céu;

São quartzos que entoam cantigas
De luz, insônia e cansaço
Ao longo de estradas antigas
Que asfaltam o lânguido espaço;

Colorem as folhas de outono
Co'os raios mais doces e frágeis
Que entoam violas de sono
Ao longo de etéreas miragens;

Seus corpos inertes e quentes
Descansam em nuvens macias
Os olhos tão densos, silentes
Soprando as astrais melodias;

E além das paisagens tão lisas
Pintadas nas águas mais puras,
Eu traço um vetor de mil brisas
Tangente à estelares texturas.

quarta-feira, 14 de maio de 2008

Cicatrizes

Além do corredor de negros ventos
Propaga a minha essência em chama fria
Ardendo em sua atroz desarmonia
O vago enlanguescer dos meus alentos;

Envolto nestas asas perecidas
Imerjo no horizonte mais extenso
Das dores que refletem o que penso
Fulgidas por um sol de mil feridas;

Traçando meu desenho nestas telas
A face de textura tão marmórea
Demonstra a palidez dos meus vernizes;

Num lânguido universo sem janelas
A frágil dissonância das memórias
Se perde no meu mar de cicatrizes.

domingo, 4 de maio de 2008

Ataraxia

No ardor espectral que me permeia
E abrange a infinitude da existência,
Eu busco a mais sublime transcendência
Da paz a desfolhar-se em minha veia;

P'la estrela solitária que passeia
No plano sideral da inconsciência,
Fulgura a dimensão da minha essência
Em meio a noite azul que se incendeia;

Tangendo o cosmo eterno da minh'alma
Mergulho num oceano que me acalma
E toda inerte dor já silencia,

Nas águas que se escorrem do seu flux
Elevo a branca chama que transluz
As vestes do meu ser na ataraxia*.


*Ataraxia: serenidade de alma; calma de espírito.