quarta-feira, 26 de março de 2008

Esquecimento

No caos desfigurante do meu ser,
Mergulho nesse mar de inexistência
Que leva este meu corpo a perecer
Pros planos abissais da sonolência;

Na dor dilacerante da minh'alma,
Me perco nos jardins da letargia
Que vêem este tormento que desalma
Tornar-se minha eterna companhia;

Na face já vazia do meu peito
Transpulsa a solitude que reveste
As terras tão silentes do meu leito
Molhadas pelo pranto mais celeste;

E assim sob a fraqueza dos sentidos
Dopados pelo ardor do desalento,
Explanam os meus sonhos tão queridos
Na langue dimensão do esquecimento.

Lágrimas Noturnas

Imerso pelos mares do meu sono
Me perco nas paredes da tristeza
Que sopram suas brisas de abandono
Na mente entorpecida em incerteza;

Andando pelas águas tão inertes
Do campo colorido pela aurora,
Me vejo enegrecido sob as vestes
Das chamas que se apagam a cada hora;

É triste a sinfonia que já ouço
Provinda destes céus crepusculares,
Prendendo este meu ser no calabouço
Da noite que reside em meus olhares;

E assim sob essa manta perecida
Do inverno que me envolve e me permeia,
Transcorre o dissabor da minha vida
Na forma dessas lágrimas de areia.

sábado, 15 de março de 2008

Núcleo

Ao longo d'um penhasco tão profundo
O som dos pensamentos me angustia
Fazendo do meu corpo a moradia
Das ânsias que assolam todo o mundo;

Ao fundo deste mar que não termina
Contemplo a deslembrança do meu fado
Levando os mil caixões do meu passado
Pro leito mais escuro desta sina;

Perdido sobre os planos da existência
Eu vejo o coração abrindo as portas
Da noite que me banha em febre aflita;

Tragado pelas sombras da demência
Só resta ao meu olhar as cores mortas
Do núcleo da tristeza que me habita.

Aura

Na essência dos perfumes mais etéreos
Que vêm das profundezas do meu ser,
Habita o mais silente dos mistérios
Em formas que não tem como se ver;

Provinda dos portões da eternidade
E vagos lugarejos do infinito
Percebo a sua plena sanidade
Fulgindo o seu desenho mais aflito.

Escorre sentimentos em torrentes
E tece os pensamentos por paisagens
Que tingem a existência em cores quentes
E faz dos meus desejos mil imagens;

Assim tal madrugada em cor tão pura
Andando pela estrada do horizonte,
Transmito este vigor que se perdura
Nos olhos da minh'aura como fonte.

quinta-feira, 13 de março de 2008

Pesadelo

Pedaços de luares já se escondem
No céu que resplandece cores frias
Tingindo as suas plenas harmonias
Por olhos que se perdem n'orizonte;

Andando pelas águas da agonia
Vertida das artérias como fonte,
Me vejo sob as ondas desse afronte
Que banha esse meu ser em letargia;

Nas telas que refletem o meu nada
Eu vejo em minha face deformada
Os sonhos que se abraçam num conflito;

À luz ocidental do sol de gelo
Imerjo minha mente ao pesadelo
Vivido nos escombros do infinito.

sexta-feira, 7 de março de 2008

Frieza

Na frágil palidez do céu cinzento
Tingido pelas cinzas da beleza,
Respira no silêncio da tristeza
O peito que se afoga em desalento;

Habita a mais espessa profundeza
Do abismo em que repousa meu tormento
O ventre que germina o filamento
Dos sonhos que congelam na frieza;

Nas dores em que sangram meus sentidos
Os olhos transfiguram mil gemidos
Que correm pelas veias tão vazias;

No solo que permeia essa morada
Espalho a minha essência congelada
À lua que perfuma as noites frias.

terça-feira, 4 de março de 2008

Paredes do Sono

À minha insônia...

Deitado sob um céu de negras cores
Que cobre este meu ser com sonolência,
Mergulho na sublime transcendência
Do sonho pincelado em mil sabores;

À lua já transposta em evidência
Mostrando seus monótonos langores,
Sentidos reverberam seus torpores
Envoltos sob o véu da inconsciência;

Por olhos que não podem mais contê-las
Descanso no silêncio das estrelas
Prendido pelas teias do abandono;

Guiado pela noite tão oblíqua
Me perco nessa terra mais longínqua
Jazida entre as paredes do meu sono.