quinta-feira, 27 de dezembro de 2007

Afluentes

No lívido bailado em sincronia
Das pétalas de amor que se floresce,
Cintila esse fulgor que me incandesce
Nas cores de bacante melodia;

Transmuta a sua cândida harmonia
Aos olhos que à noite se entristesce,
Nutrindo esse delírio que me aquece
Do vil enlanguescer da luz do dia;

Incenso que ilumina a minh'alma,
Perfume que inebria e que me acalma
No denso reluzir de seus tracejos;

Encubra-me em seu véus iridescentes
Envolto nos eternos afluentes
Dos virgos oceanos de desejos.

segunda-feira, 24 de dezembro de 2007

Le Fleur Maladive

Tais ermas celestes estradas
Em campos de azuis arvoredos,
Exalam seus curvos segredos
Por doces fragrâncias douradas;

Exibe o seu frágil lampejo
Tingido nas cores mais vimes,
Nutrindo os encantos sublimes
Com denso fulgor do desejo;

Nos mantos de noites silentes
Tecido em membranas tão vivas,
Fulgura em centelhas lascivas
As rubras carícias ardentes;

Derrama a s'a avérnica essência
No mar dos profundos olhares,
Fulgindo na luz dos luares
A nossa eternal ascendência.

quarta-feira, 19 de dezembro de 2007

Violino

Por massas sonoras vetustas
Na triste e infernal sincronia,
Escorrem as cordas augustas
Em densa e fecunda harmonia;

Passando os nervosos tendões
Em doce e gentil plenitude,
Soprando as funestas canções
Por leitos de vil solitude;

Nutrindo os ouvidos mais mórbidos
Com tristes allegros em flor,
Vertendo os acordes tão sórdidos
Por noites que dormem sem cor;

Ressoam sombrios lampejos
Em céus de noturna lembrança,
Ardendo os serenos arpejos
Dos vãos violinos em dança.

quinta-feira, 13 de dezembro de 2007

Dissabor

Por lágrimas fluentes transluzidas
Na lua que do espaço se levanta,
Expalana seu vigor que me acalanta
Por átrios de fragrâncias esquecidas;

Por olhos de membranas perecidas
Ao lume do horizonte que me espanta,
Arpeja esta harmonia que me encanta
Nos quadros de miragens aturdidas;

Tristeza que das veias se desflora
Vertendo nos matizes desta aurora
As dores mais silentes do meu fardo;

Nas fibras desta carne que me veste
Envolvo-me no abraço mais celeste
Do eterno dissabor em que eu ardo.

segunda-feira, 10 de dezembro de 2007

Ventos Errantes

Nos doces murmúrios gentis
De ventos nuturnos silvantes,
Contemplo s'as danças errantes
Ao longo dos campos febris.

Ressoa seus frios montantes
Em negras correntes senis,
Traçando um lumério matiz
Nos tristes celestes semblantes;

Por níveas paisagens floridas
Encanta essas nuvens doridas
Com dedos de herbórea destreza,

E assim co' seu braço espiral
Explana o seu manto eternal
Na vime canção da tristeza.

quinta-feira, 6 de dezembro de 2007

Sol Funeral

No sol funeral de infinita espessura
Brilhando no céu seus escuros lampejos
Derrama o torpor de sua acre doçura
Nos lábios azuis dos celestes desejos;

Nos arcos majestos de estranho vigor
Traçando por mim seus feixes dormentes,
Exibe na Terra um quimérico horror
Por olhos morgados, senis e silentes;

Nos olhos que fulgem coroas sangrantes
Tingidos de piche em doridos eclipses
Vertendo o fulgor de lustrosos semblantes
No branco horizonte em morrentes elipses;

Nas línguas etéreas de astral agonia
Beijando os tecidos dos ventres sidéreos,
As almas propagam a vã sinfonia
Que rege esse mundo em langores funéreos.