quarta-feira, 27 de fevereiro de 2008

Tempo

Ah, templo da sublime liturgia
Que traça dedos longos pela história,
E emite este sabor de nostalgia
Provido pelos flancos da memória;

É casa dos momentos que se escorrem
Ao longo das estradas do universo,
Tais águas do infinito que percorrem
Os rios em destino tão disperso;

O livro dos mistérios mais ocultos
Que guarda seus escritos no passado,
E leva para os corpos já sepultos
A paz do seu descanso mais sagrado;

Semente que germina em todo canto
Nas danças do inverno ou primavera
Trazendo na ilusão do seu encanto
Os sonhos que florescem a toda era.

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2008

Versos

Sob lua que brilha seu rosto de prata
Componho o verniz dos poemas cinzentos,
Traçando na folha a mais triste sonata
Do cosmo da mente em infindos tormentos;

Tristeza que aflora das minhas artérias
E nutre estas letras impressas em dores
Retrata o pulsar das enfermas matérias
Que imergem meus traços num mar de langores;

No vento que dança ao compasso da noite
Espalham-se os versos de eternos pesares
E junto com ele o mais cálido açoite
Dos sonhos perdidos nas mantas dos ares;

Por dedos que escorrem palavras tão frias
Eu abro em meu verso as mais lúgubres portas,
Que escrevem nos céus as finais elegias
Dos olhos que brotam lembranças já mortas.


25/1/08

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2008

Desfolhar-se

Imerso no silêncio destas rosas
Da triste placidez que me permeia,
Os sonhos se reduzem à poeira
Que forma as minhas cinzas lutuosas;

Rasgando as minhas fontes lacrimosas
Com dores que circulam minha veia,
Me entrego a senetude que passeia
No campo florescido em mil neuroses;

Em vez da liberdade que me acalma
Só vejo a eternidade da minh'alma
Fundir-se num terreno de miséria,

E assim eu me aprofundo no tormento
Que imerge esse meu ser no sentimento
Do ardor que se desfolha em minha matéria.

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2008

Comatose

Caminho no deserto sigiloso
Dos astros que colorem céus noturnos,
Fulgindo num rubor pernicioso
A dor dos pensamentos mais soturnos;

Visões que se convertem nas quimeras
Da tarde construída em cores frias,
Revela o aproximar das novas eras
No canto das eternas liturgias;

Eterna, tal miséria descendente
Que brilha ao estupor do sol opaco
E vento que desmancha a cor morrente
Da chama que lampeja um corpo fraco;

Num mar que perpetua as vis esfinges
Da mente revestida em psicoses,
Explana em cadavéricas vertigens
Os sonhos das profundas comatoses.

Sonolência

Em tardes de sardônica beleza
Luzindo as fragrâncias do Deus Sol,
Flutua como um frágil rouxinol
As asas que me envolvem na tristeza;

Em meio a essas cores tão vazias
Que banham e preenchem céus devassos,
Eu danço nos funéreos descompassos
Da valsa que anuncia o fim dos dias;

Mergulho nessa nuvem de vertigem
Que eleva este meu ser à torpe altura
E inunda o coração coa ânsia impura
Das cinzas que provem de sua origem;

Nos olhos em que fecham suas portas
Pro mundo interior em decadência,
A mente já se entrega à sonolência
Das veias pronde escorrem flores mortas...


8/2/07

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2008

Nervos

No baile destas ondas luminosas
Banhando a alvorada em cor vermelha,
Apaga-se o fulgor desta centelha
Que nutre as ilusões mais dolorosas;

Nos traços das paisagens nebulosas
Da vime solidão que me permeia,
Percorre este langor na minha veia
Levando as minhas ânsias cigilosas;

Em dia que fulgura um céu dorido
Encubro-me co'o lúgubre tecido
Que veste o meu destino em negras cores;

Na mente pincelada em vãos matizes
Os nervos se transformam em raízes
Que aterram o meu ser num mar de dores.



18/1/08

sexta-feira, 8 de fevereiro de 2008

Flor de Carne

É ser das mais profundas agonias
Tingida por um mar de cores nuas
Cantando seus delírios para as luas
Que brilha como estrelas já tão frias;

Transpira e desabrocha sob as portas
Do sol que descolore folhas virgens,
Flertando pelos campos das vertigens
O céu que bruxeleia nuvens mortas;

Exala pelos ares sua essência
Na cor de seus feitiços mais devassos,
Que pintam as montanhas nos tons lassos
Das flautas em orquestras de clemência;

Abrindo as suas pétalas serenas
Pr'a brisa que perfuma jardins ralos,
Revela o desalento destes halos
Que explanam suas dores mais terrenas;

Em vez de sua face tão vistosa
Luzir em seu rubor iridescente,
Espalha num langor convalescente
As carnes que florescem desta rosa.

terça-feira, 5 de fevereiro de 2008

Anjo

Além dos horizontes mais dispersos
Deitados sob as nuvens de veludo,
Um anjo fulgurou seu canto mudo
Subindo pelos braços do universo;

Espalha negras chamas pelo vento
No ardor de sua angélica tristeza,
E chora a sua mágoa à lua acesa
Que banha a superfície em tom cinzento;

Vertigens que colorem seus olhares
No tom mais azulado da agonia
Usando o cobertor da noite fria
Pr'o alento de seus medos e pesares;

Pedindo para estrelas do oriente
Um fim pr'a sua febre dolorosa,
Que dança nessa valsa lacrimosa
Co'os sonhos que se esvaem pelo poente;

Em dores dessa aflita criatura
Prostrada no seu mar de desencanto,
Mergulha as suas asas de amianto
Num céu que se transforma em sepultura.