domingo, 13 de setembro de 2009

Náusea

Espessos turbilhões de ansiedade
Descendem pelos ferros da garganta
Trazendo o dissabor que desencanta
E imerge toda vida em nulidade;

O medo que fibrila em toda veia
E rasga a epiderme das nervuras
É o rosto dssa angústia mais escura
Que o corpo e todo espírito, permeia.

Luares lacrimosos, lazarentos,
Luzindo o lamaçal dos desalentos
Em langues labaredas deletérias

Refletem toda a náusea da existência
Que escreve pelos céus da consciência
As órbitas eternas da miséria.


22/6/09

2 comentários:

Manu disse...

Maravilha!

Ficava me perguntando qucno viriam poemas novos.

Teus poemas são esculpidos de tal modo que ficam irretocáveis.

Mas, nesse caso, a terceira estrofe tem uma sequência de L's. Para reforçar esse uso, poderia haver algo assim na quarta. Poderia ser usado o S, já que ali já estão as palavras 'náusea', 'existência', 'céus', 'consciência' e 'miséria'.

Fernanda Rodrigues Barros disse...

Carlos,
Olha que coincidência (isso existe? rs): entrei para ver teus escritos e encontro como último post este poema intitulado "náusea" e eu estava justamente relendo o livro que carrega o mesmo título do autor Sartre. E logo de cara, na primeira parte, em que ele começa a expor a sua náusea existencial, encontrei muitas referências ao teu poema ou o teu poema seja uma referência ao livro dele:

“Aconteceu-me qualquer coisa; já não posso duvidar. Qualquer coisa que veio à maneira duma doença, não como uma vulgar certeza, não como uma evidência; que se instalou sorrateiramente, pouco a pouco. A dada altura, senti-me um tanto esquisito, algo incomodado, mais nada. Tomado o seu lugar, essa coisa não mexeu mais, ficou como estava, e pude assim convencer-me de que não tinha nada, que tinha sido um rebate falso. Mas eis que o mal começa a propagar-se”.

*Espessos turbilhões de ansiedade –“a dada altura, senti-me um tanto esquisito, algo incomodado...”

*Descendem pelos ferros da garganta – “se instalou sorrateiramente”

*Trazendo o dissabor que desencanta – “mas eis que o mal começa a propagar-se”.

Quiçá, Sartre se pudesse ter conhecido teu poema, diria “eis minha náusea em forma de poesia!”.

Dizem que um bom texto é quando as possibilidades de interpretações são diversas:

O poema também me faz lembrar de "Frankenstein" de Mary Shelley. O eu-lírico parece sofrer não por algo que externamente o abate, mas por algo intrínseco que provém dele (embora causado,às vezes, pelo extrínseco) e do qual não sabe como livrar-se.

Amplexos!!